Sobre este assunto, a opinião que partilho convosco é minha e apenas me compromete a mim.
1. Este processo, para além de não ter nem pés nem cabeça, é um regresso ao passado. Por trás deste manto de modernidade há uma clara intenção de manietar o jornal, usando-o como arma de arremesso político e de condicionamento da opinião pública. Aliás, basta ter um pouco de memória para lembrar o que era o DA antes da chegada do Paulo. A generalidade dos políticos não gosta do que não consegue controlar. Regressou, às claras, a vontade de controlar.
2. Ao longo destes anos, o DA granjeou prestígio, prémios e, acima de tudo, respeito por parte dos seus leitores e dos seus pares. Esta mudança, em véspera de dois atos eleitorais, é uma irresponsabilidade social e cívica: numa região em que a imprensa, nomeadamente a escrita, vive uma época de enormes dificuldades, fazer isto a um órgão com esta qualidade, e com a falta de massa crítica que impera no Baixo Alentejo, é, além de perigoso, incorrecto.
3. Caro Paulo, espero que encontres um refúgio profissional que te valorize e em que possas explanar todo o teu talento. Lamento que esta região não te dê o reconhecimento que mereces. Um grande abraço e obrigado. Do fundo do coração, muito obrigado!
Caros leitores, o meu nome é Aníbal Puritano e sou membro da Ordem de Malta... Da malta preocupada com a Igreja do Baixo Alentejo. Nos últimos tempos, a Igreja tem sido muito debatida nas páginas deste jornal, embora sem a profundidade exigida. Assim, resolvi partilhar convosco o meu humilde e extraordinário ponto de vista. Vamos começar pelo topo: pessoalmente, não tenho confiança no papa Francisco. Aliás, não confio em nada do seu país – desde que a Evita Perón se transformou em Madonna que aquilo nunca mais me disse nada. A única Argentina em quem podemos confiar é na Argentina Santos, fadista da nossa terra que canta coisas decentes, ao contrário da Madonna, que insiste em estacionar a sua frota em Lisboa, com tanto espaço disponível na Colina do Carmo. Outra coisa de que se deve falar é das igrejas propriamente ditas – fechadinhas é que elas se querem, ali, a ganhar salitre. Abrir as igrejas para os turistas visitarem é uma abominação. Como está escrito na epístola de Santo Eremita Sousa Lara aos Coríntios: “E foi então que, erguendo o cálice, voltou-se para os discípulos dizendo: calmex, que isto de ter as igrejas abertas custa dinheiro. Qualquer dia ainda querem usar aquilo para rezar e depois é um chiqueiro que não se pode”. No outro dia até fiquei escandalizado quando vi um judeu a visitar uma igreja da nossa região. Era o que mais faltava! O Cristianismo não se deve misturar com outras religiões, como o Judaísmo, o Budismo ou o LuisdaRochismo. Os judeus usam a Menorá, o que é um perigo – aquilo com velas, numa igreja acabadinha de envernizar, é um perigo público. Na Igreja, quando muito, só se deveriam fazer funerais, mas os judeus, com a mania de quererem fazer dinheiro, querem transformar aquilo num crematório – ainda acabam com o negócio em Ferreira do Alentejo! Também não deve haver cá misturas com Testemunhas de Jeová. É uma malta muito estranha: abordam-nos na rua a perguntar se sabemos ler, e espetam-nos sempre com o mesmo exemplar d’ A Sentinela. Não se pode ter confiança num pessoal que monta uma estante em 35 segundos no meio da rua (ou bem que são religiosos, ou bem que são funcionários do IKEA, as duas coisas ao mesmo tempo é que não) com publicações várias, e não há uma TV Guia, uma Ana Mais Atrevida ou o Notícias de Beja – um escândalo! Por último, a “arte” – sim as aspas não são por acaso – é uma coisa que deveria ter os dias contados nas igrejas da região, especialmente a Arte Moderna. Aliás, estas obras distraem os fiéis da oração, da penitência e das vergastadas no lombo. Defendo, por isso, que a decoração/arte nas igrejas deveria ser mais parecida com o que temos em casa: um quadro do Menino da Lágrima, um naperon comprado na Feira de Castro e um cão de loiça de Beringel. Não era preciso de mais! Mesmo ao usar o smartphone ou PC pessoal em casa os fiéis deveriam usar imagens no ambiente de trabalho que não distraíssem, como uma foto de Jesus Cristo, do bispo de Beja, ou do albino do Código Da Vinci.
Há portugueses que não gostam muito de Portugal, mas gostam muito dos não portugueses que gostam muito de Portugal. Somos praticantes de uma espécie de outsourcing do patriotismo tuga – somos tão sovinas e preguiçosos que preferimos que os outros, “os estrangeiros lá de fora”, façam esse trabalho por nós. Afinal, isto de gostar do nosso país dá trabalho e não é para andar a fazer por aí, à balda. Mas o tuga quer sempre mais: não basta que a Madonna viva em Portugal, ou que a Monica Bellucci tenha comprado uma casa em Lisboa (obrigado, Deus!). Se há uma notícia sobre a realidade internacional, haverá sempre alguém que encontre um detalhe tuga: "A Síria foi bombardeada pela França, Reino Unido e Estados Unidos. Sabia que a aerodinâmica dos mísseis foi melhorada no Instituto Politécnico de São Marcos da Ataboeira?"; "Donald Trump traiu a sua esposa com uma atriz porno. Sabia que essa atriz uma vez comprou popias caiadas em Portel?"
Lembra-se da estação espacial chinesa que ia cair algures no planeta? Saíram logo notícias de que havia uma forte possibilidade de 3% (três por cento!) de cair onde? Em Portugal, pois claro! Era mais provável que o/a leitor/a ganhasse o Euromilhões no mesmo dia em que ia almoçar com a Sara Sampaio ou o Paulo Pires. Parece que a estação caiu no oceano Pacífico, ao largo do Chile. Não sei como é que não noticiaram que, ao entrar na atmosfera, a estação espacial se tinha desintegrado em latinhas de atum Bom Petisco em azeite virgem extra e em galos de Barcelos – haveria lá coisa mais tuga!?
Há pouco tempo, Kate Middleton, a Duquesa de Cambridge, deu à luz mais um bebé. Claro que havia jornalistas portugueses a cobrir, em direto, o acontecimento. Mas, infelizmente, não tiveram sorte: já não bastava a Duquesa de Cambridge estar no único hospital do hemisfério norte que não tinha uma única enfermeira portuguesa, mas os membros da imprensa também não conseguiram descobrir que Kate tinha levado pontos com uma agulha produzida numa fábrica de Alvito, e que a primeira refeição da criança tinha sido um biberão com sabor a pastel de nata do Luiz da Rocha. Nem quero imaginar o frenesim de alguns destes jornalistas quando descobrirem que em Portugal também há mulheres que dão à luz.
Também recentemente, um lunático atropelou um monte de gente em Toronto, no Canadá. Os média portugueses não descansaram enquanto não descobriram que uma portuguesa (claro!) tinha sido uma das vítimas. Dias depois, no Observador, é notícia: “Lusodescendente ferida no atropelamento em Toronto sem nacionalidade portuguesa” – uau, que alívio! Afinal não é tão grave, ela nem é portuguesa!
Estimados jornalistas do meu país, esta obsessão com tudo o que é português no estrangeiro tem de acabar. Senão, qualquer dia, descobrem portugueses que fazem coisas boas cá.
Está pronto desde o início do ano, mas só agora viu a luz do dia - não estranhem o desejo de bom ano logo no início da gravação!
O podcast do Isso é lá deles... está de volta, e desta vez temos uma entrevista com Paulo Barriga, diretor do Diário do Alentejo. O Paulo (sim, sou suspeito) tem feito um trabalho extraordinário no Diário do Alentejo. É um jornalista com experiência, com muitas histórias para partilhar, o que fez nesta conversa que durou mais de uma hora. Não me quero alongar com muitos comentários - esta edição fala por si.
Muito obrigado, Paulo, pela tua disponibilidade e paciência. E ao José Miguel Sequeira, pela edição e música.
"Ela é linda sem makeup up Ela é perfeita e quando se deita não precisa de makeup Sem rímel, sem, sem batom, ela foi abençoada, yeah Com o olhar, com o dom de parar o trânsito na estrada E ela não precisa de se pintar para provar"
No outro dia fui às urgências. Cheguei à sala da triagem, onde fui atendido por uma enfermeira com o ar de quem tinha morrido por dentro e só estava à espera da autópsia, e ela, num último sopro de vida, perguntou-me: “Então, está aqui porquê?” Reparem que a senhora não perguntou o que é que eu sentia, nem como é que conseguia manter-me tão sensual, apesar de estar doente. “Estou aqui porquê?” Uau! Já não bastava a escola e ainda tenho de chegar ao hospital e levar com estas perguntas difíceis. Senti-me no “Quem quer ser milionário”, encalhado na pergunta para ganhar 25 mil euros, mas já tinha ligado para casa e a ajuda do público na sala de espera não valia a pena, porque malta com febre ou com um rabinho de trombose não ajuda muito… Assim, estive a pensar em várias respostas possíveis. Estou no hospital, nas urgências, porque…
1. … Hum, vim ver a paisagem! Se há coisa de que gosto é de ver estas planícies de idosos a soro em macas, intercalados com montes de pitas em coma alcoólico. Por alturas da Ovibeja o cenário é deslumbrante e até mesmo bucólico! Não há nada como ver um belo pôr do sol, com a luz a bater na moleirinha dos idosos… E de inverno aquela neblina a lixar os cabelos das pitas… Lindo! Espere só um pouco, senhora enfermeira, que vou tirar uma foto dos idosos a soro para o Instagram! Pronto, já está! #IdososASoroAcamados#PitasEmComaAlcool ico #Sunset#DeusnoComando#PulseiraAmarela#TriagemdeManchester4ever
2. … Ah, vim ver televisão na sala de espera! O que me apetecia mesmo era estar numa sala cheia de gente com uma pulseira amarela a ver a TVI. Ainda tive esperança de poder ver um documentário na RTP 2, mas o raio da televisão está sempre na TVI! Malvadas das auxiliares que ficaram com o comando… Pelo menos estou bem acompanhado, e a sala tem a temperatura ambiente do interior de uma salamandra, enquanto lá fora está um frio do catano. Bem, vou mas é voltar para lá e tentar adivinhar os nomes das pessoas que são ditos nos altifalantes. Tenho esperança de que o feedback das colunas me deixe surdo: assim, a TVI leva-se muito melhor! Pronto, agora é rezar para que apanhe um médico espanhol que fale como o Paulo Bento ou o palhaço Croquete. E se tudo correr bem, devo estar despachado antes da Páscoa… de 2022.
3. … Ora bem, sabe o que é que foi? Estava com uma daquelas vontadinhas de comer uma fatia de salame de chocolate com três semanas, e vim ao hospital para ver se havia alguma naquela máquina automática que vende merdas que fazem mal a quem aqui está – um diabético comer Twix não deve ser grande ideia, mas também não sou nenhum médico, não é verdade?! Mas olhe que só como a fatia de salame se tiver passado pelas mãos de alguém contaminado com ébola ou gripe A. Sabe como é que é, quando engravidamos de Satanás, ficamos com estes apetites estranhos! (Descobri que é especialmente eficaz se for um homem a dizer isto. Não fui eu quem o disse, prezado leitor. Foi um amigo que me contou. A sério!
Texto publicado na edição de 9 de março do Diário do Alentejo.
O que está prestes a ler é um serviço público da mais elementar necessidade, como a água, o pão ou o toucinho. Este é o manual que lhe permitirá sobreviver no talho e lidar com os três tipos de clientes mais particulares:
A "cliente informativa": aquela que não se limita a ir ao talho; ela vai ao talho e conta o que se passa na sua vida com um detalhe que não se vê nem na Enciclopédia Luso-Brasileira:
Talhante: Bom dia, D.ª Alice!
Cliente: Bom dia, Sr. Romão!
Talhante: Então como é que está?
Cliente: À rasca dos meus joanetes, mas isto já passa…
Talhante: E o que é que vai ser hoje?
Cliente: Olhe, Sr. Romão, queria ali [espeta o dedo gorduroso na vitrina] 800 g daquela vitela. Não quero nem muito magra, nem muito gorda. É para guisar com duas cervejas pretas, que o meu filho gosta muito da carne assim. Ele hoje chega às 13.30 para almoçar comigo. Geralmente sai às 14 horas, mas hoje o patrão deixou-os sair mais cedo da loja de ferragens! Ele trabalha há dois anos naquela loja na Rua José Carlos Malato, n.º 37, que está aberta das 9 às 18 e fecha aos fins de semana e feriados. O número de telefone da loja é o 284123456 e está inscrita no Registo Comercial de Beja com o n.º 45183 – MO. Sr. Romão, quero a carne cortadinha como se fosse para jardineira.
A "cliente suspiradora": aquela que liberta, em média, um suspiro a cada 20 segundos; ela suspira tanto que não conseguimos perceber se está deprimida ou com falta de ar, e o seu discurso varia entre a depressão e o enfado:
Talhante: Olá, D.ª Etelvina! Então, como é que isso vai?
Cliente: [Suspiro] Ai, Sr. Sebastião... Por aqui vai-se andando, olhe já nem sei... [Suspiro]
Talhante: Ah, estou a ver, e então o que é que vai ser hoje?
Cliente: [Suspiro] Olhe, não sei... Nem sei o que quero... [Suspiro]
Talhante: Não sabe o que quer, D.ª Etelvina?
Cliente: [Suspiro] Olhe, nem sei o que quero desta vida, veja lá! [Discurso deprimido, salpicado com frustração, porque não gosta de ser apressada pelo talhante que tem mais do que fazer...]
Talhante: Não diga isso, veja lá, temos aqui coisas tão boas. Olhe aqui este belo pernil! Também temos uns lombinhos que chegaram hoje...
Cliente: [Suspiro] Pois, não sei... [Suspiro] Não sei, estou aqui indecisa... [Suspiro] Ai...
A "cliente franzida": aquela que franze a cara a tudo o que o talhante lhe mostra e depois acaba por levar outra coisa que não era suporto levar:
Talhante: Bom dia, D.ª Efigénia! Como é que está hoje?
Cliente: Bem, obrigada! Olhe, preciso de qualquer coisa para o jantar, uma coisa de qualidade, que o patrão do meu marido vem comer connosco.
Talhante: Olhe aqui esta vitela magnífica para guisar, o que é que lhe parece?
Cliente: [Franze] Hum, não sei... E o que é que tem mais?
Talhante: E estas belas costeletas de borrego!?
Cliente: [Franze] Hum, não sei... E o que é que tem mais?
Talhante: Então e este "cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo"?
Cliente: [Franze] Hum, não sei... Acho que levo uns túbaros e acabou-se!
Os inspetores da PJ passam tanto tempo no Estádio da Luz que um deles ainda vai substituir o Krovinovic.
A minha mulher apanhou-me a comer chocolates de Natal da minha filha à socapa, como se fosse um gato vadio a vasculhar no lixo. Acho que teria sido menos constrangedor se me tivesse apanhado a ver pornografia.